Lembranças de lembranças

Adriana Amaral

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Lembranças de lembranças é uma série de trabalhos composta por onze fotografias impressas e um vídeo, realizada no litoral paulista, na cidade do Guarujá (SP). Nela, as imagens narram as sensações de melancolia e desconforto, através de um “lirismo alquímico”, fruto de uma experiência dolorosa em uma viagem com meus pais – ele com 87 anos e minha mãe com 82. Ao regressar à praia do Guarujá, onde passei os verões da minha infância, experimentei uma sensação inédita naquele local. Para mim era uma alegria estar de volta, depois de tantos anos, naquele lugar onde fomos muito felizes. Porém, para meu pai, aquela ocasião despertou sentimentos inversos. Todos os dias, ao amanhecer, ele me perguntava quando voltaríamos para casa, fazendo com que os dias passassem carregados de pessimismo. Na intenção de escapar daquela realidade, comecei a fotografar e filmar com um papel celofane cor-de-rosa como filtro, registrando cenas de crianças e famílias, em momento de plena alegria.
A angústia do momento transformava a câmera fotográfica em uma válvula de escape e o filtro em anestésico para minhas emoções e sentimentos. O deslocamento das memórias alegres que trazia comigo (Lembranças de lembranças) transformou o presente em melancolia. Desconfortável com aquela realidade, passei a capturar cenas alegres que se deixassem aprisionar, como dentro de um cristal, protegidas, para que as minhas recordações não se dissolvessem nos limites da minha própria memória, afetada por uma tristeza resultante daquela experiência.
O processo de sublimação do trauma, gerado pela reação negativa de meu pai em confronto com as minhas expectativas, fez com que eu iniciasse um procedimento estético de sobrepor camadas de realidade nas imagens que concebia. Através de um lirismo alquímico, transmutava as cenas que via em imagens que, apesar de não serem projetadas por mim, poderiam figurar como lembranças. A alquimia, resultante da mistura da utilização do filtro rosa com as ferramentas da fotografia, gerou imagens saturadas, desfocadas e distorcidas que apesar de serem fragmentos do presente, foram coloridas pelo “passado”, o que vai ao encontro do pensamento de David Lynch: “ Eu acho que toda vez que você faz algo como pintura, ou o que você fizer, você vai com ideias e de vez em quando, o passado pode conjurar essas ideias e colori-las, mesmo elas sendo ideias novas, o passado as colore.”

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Adriana Amaral
Ribeirão Preto – SP
Artista visual
@adrianaamaralartistvisual