Diferente do entendimento sutil que é compartilhado em nosso imaginário coletivo, a fome não é um incidente na vida de algumas poucas pessoas infelizes ou um acidente geográfico de determinada região onde vivem outro punhado de pessoas infelizes. Como bem definiu Josué de Castro – médico, nutrólogo, geografo, cientista social e político, a fome é produto das relações sociais como as estruturamos e vivemos. A Terra, nossa casa comum, sob nossa ação e tecnologia já produz mais alimento do que o necessário para alimentar toda a humanidade. Alimento que circulam dentro deum sistema economico, politico e social especifico que concentra os recursos e impede, não alguns, mas um pouco mais de uma quarto da população mundial de se alimentar dignamento. Sim, isso mesmo, hoje 2 bilhões de pessoas no mundo passam fome e/ou algum grau de insegurança alimentar. No Brasil não é diferente. A fome nos assola há séculos e a pequena porém significativa melhora que tivemos no início do século XXI ao sairmos do mapa da fome já foi varrida pra baixo do tapete. Com as políticas governamentais de redução e congelamento de gastos que vivemos desde o anos de 2016, o recorde de desemprego e a atual pandemia, voltamos ao mapa da fome e ela está sendo vivida por nossos iguais ao virar da esquina.
O ensaio a seguir é parte da primeira etapa de uma documentação realizada pelo Ação da Cidadania em busca de ouvir as narrativas de quem está sofrendo com essa violência social. Realizada em 11 comunidades da Grande Rio, fotografamos as famílias, as pessoas que estão nessa luta. Fome não é ideia ou fantasma, é flagelo afiado no corpo, na mente, na existência de gente, gente humana.
Como disse Carolina Maria de Jesus: “A tontura da fome é pior que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago”