Brasil do Futuro?

Os heróis e heroínas de verdade não usam capa

Aritgo Isis Medeiros
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Brasília, 1º de janeiro de 2023.

Faria um textão sobre a desigualdade de gênero e de acessos (vulgo privilégios) no fotojornalismo brasileiro, especialmente no contexto desse ambiente político, mas hoje vou ficar com essa imagem da Annelize Tozetto, que resume muito bem sobre a luta das mulheres fotógrafas para acessarem esse universo tão excludente, e por muitas vezes, violento! Eu e Annelize não nos conhecemos, mas essa imagem me toca profundamente porque representa todas nós tentando fazer um trabalho – dentro ou fora – da imprensa tradicional.

Já vivi essa situação infinitas vezes até chegar em determinados espaços, e mesmo tendo conquistador alguns deles, o acesso não está garantido para a maioria de nós. A luta é diária pra permanecer! Ó, e eu amo estar lá em cima do palco fotografando com minha pulseirinha de ouro no braço. Quem não? Mas a minha galera, essa que enfrenta a luta na base, segue assistindo tudo daqui de baixo.

Gostaria então de chamar atenção também para as nossas referências na fotografia, nas artes de forma geral, porque é sempre bom repensar as práticas que cultuamos e conhecer mais de perto os (falsos) heróis que idolatramos pela TV e pelas redes sociais. Os heróis e heroínas de verdade não usam capa, muito menos câmera, estão na base da sociedade sustentando esse sistema desigual e extremamente excludente.

Fotografia é mais uma ferramenta potente de luta e resistência dentro e fora do campo da política institucional. mas tá cheio de abusos e absurdos desses fotógrafos oficiais sendo silenciados todos os dias debaixo dos nossos olhos. Sim! Na comunicação, na fotografia, exatamente dentro dos partidos progressistas de esquerda! Uma completa contradição.

Mas não!

Nós nos dispomos a enfrentar o fascismo nas urnas, mas não estamos preparadas/os para esse debate sobre a falta de ética, o desrespeito e a misoginia praticados todo santo dia dentro dos nossos ambientes. Há sim muita conivência com a violência e pouquíssima democracia! Não tivemos ainda maturidade de encarar os fatos e enfrentar o machismo/ patriarcado que sentam todos os dias do nosso lado, e que absurdamente avançam sobre nossos corpos.

A geração dos meus pais nasceu com a ditadura e passou a vida naturalizando violências, resquícios desse período tenebroso. A minha geração nasceu com a Constituição, somos frutos de uma democracia muito frágil, muitas vezes falha, mas que não aceita mais seguir silenciando para abusos, seja de quem for, de direita ou de esquerda. Violência é violência!

Minha total admiração por quem luta por reparação histórica, por quem tem coragem de ir pro front e representar a categoria, mas, que mesmo com « privilégio de acesso » segue lutando para que outros corpos historicamente excluídos possam caber também nesse mundo, porque ele também é da Annelize, ele é nosso!

 

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