Mulheres, Fotografia e Feminismos

Primeiro Congresso da WOPHA (Women Photographers International Archive) reúne 25 organizações

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O primeiro Congresso da WOPHA (Women Photographers International Archive), aconteceu nos dias 17, 18 e 19 de novembro de 2021, no Art Pérez Art Museum Miami (PAMM), com palestras, encontros, exposições e eventos paralelos que ocorreram por toda a cidade.

O objetivo do encontro foi criar um espaço crítico para discutir a fotografia, reunindo organizações mundiais de fotógrafas, historiadoras de arte, teóricas e curadoras na construção e representação da história das fotógrafas desde o século XIX até os dias de hoje.

Idealizado pela fundadora e diretora da WOPHA, historiadora de arte latina e curadora, Aldeide Delgado, o evento trouxe a ideia da fotografia como uma prática colaborativa, abordando tópicos da estética feminista, a descolonização de arquivos e estratégias curatoriais. O programa apresentou pesquisas, ações coletivas, trabalhos de fotógrafas e questionamentos acerca das mudanças que estão ocorrendo dentro das instituições e em nossa sociedade.

Entre as 25 iniciativas internacionais, o projeto Mulheres Luz foi uma das organizações convidadas a participar do Congresso, que aconteceu de forma online e presencial. Acompanhamos o evento também presencialmente, representadas pela nossa parceira e colaboradora Livia Bitetti.

Na quarta-feira 17, dia que antecedeu os encontros abertos ao público, a organização proporcionou uma Assembleia entre os coletivos convidados. Dessa forma, cada representante pôde apresentar seus projetos e ações, proporcionando uma troca valiosa entre as experiências em seus países e, independente das culturas regionais, a conclusão é unânime: é necessário trabalhar como um grupo para fazer a diferença. Um dos debates em comum nas instituições formadas por mulheres é que ainda é necessário fortalecer a inclusão das fotógrafas trans, travestis e não binárias. Outro ponto entre as participantes é a necessidade de financiamentos para investir em pesquisas e agir mais assertivamente em busca de mudanças sociais, além de formas para garantir uma estrutura sustentável.

“Estudei História da Arte na Universidade de Havana de 2011 a 2016, onde me especializei em história da fotografia cubana. Na academia, notei que apenas 1,8% das teses apresentadas para o bacharelado e doutorado em História da Arte eram sobre fotografia. Quando comecei o processo de criação do arquivo, fui confrontada com a falta de material sobre as fotógrafas cubanas que trabalhavam antes de 1959. Na ausência dessas fotografias, realizei entrevistas e procurei muito em revistas e jornais tentando encontrar trabalhos que muitas vezes não eram nem guardados pelas famílias das artistas. Para mim foi importante entender como a história da fotografia cubana foi definida através do olhar dos fotojornalistas alinhados aos valores populistas de Cuba pós-1959. Também ficou evidente a falta de reconhecimento das práticas artísticas das mulheres. Eu me perguntei, onde estão as outras mulheres nesta história? Um dos argumentos que muitas vezes ouvi foi que não havia mulheres na fotografia, ou se existiam, elas não eram boas. Dentro desse contexto, comecei a organizar o Catálogo de Mulheres Fotógrafas Cubanas, um projeto que abrange artistas do século XIX até o presente.” (Aldeide Delgado, WOPHA)

Nos dias 18 e 19 uma agenda com 16 mesas apresentou diversas pesquisas e trabalhos em torno do desejo comum de fortalecer as Mulheres, a Fotografia e os Feminismos, tema central do Congresso, e traçar novos caminhos com o objetivo de criar espaços cada vez mais colaborativos.

A fotógrafa americana Maggie Steber, que participou do debate sobre a fotografia documental, divide sua inquietação: “Progredimos como mulheres mas não tanto assim, a estrutura deveria estar muito mais transformada e igualitária do que ainda encontramos, ainda existem editores homens que não nos deixam atuar com liberdade.” Assim como Laylah Amatullah Barrayn, co-autora do MFONwomen, reforça em sua fala: “A função da liberdade é conseguir tornar outras pessoas mais livres.”

Dessa forma, não basta abrir espaços, eles devem ser ocupados com liberdade de expressão, em toda a cadeia do fazer e pensar fotografia. “Precisamos de mais mulheres líderes e curadoras para poder mostrar mais trabalhos com diversidade de olhares, subverter a narrativa e analisar a complexidade das relações de gênero”, enfatiza Andrea Nelson, curadora associada no departamento de fotografia da Galeria Nacional de Arte em Washington, D.C.

Para Karen Cordeiro Reiman, curadora e historiadora de arte independente, não basta apenas apresentar um trabalho, mas mostrar uma outra maneira de se ler e questionar a estrutura patriarcal, na arte, na curadoria, e analisar as estruturas de poder que marginalizam as mulheres: qual é a perspectiva feminina?

“A história da fotografia foi criada por fotógrafos e curadores homens e brancos. Estamos em um momento de grande mudança social e cultural e não vamos ter uma história completa da fotografia até que tenhamos mais fotógrafos e fotógrafas latino-americanos, afro-americanos, povos indígenas, pessoas queer e todos os povos que foram marginalizados ao longo da história”, reflete Abigail Solomon-Godeau, Professora Emérita no Departamento de História da Arte da Universidade da Califórnia.

Durante o Congresso, algumas publicações foram apresentadas, como o livro cubano 100 anos da fotografia, onde dos 52 autores citados apenas duas são mulheres. No Brasil não é diferente, uma publicação similar apresentou 100 biografias, entre elas, apenas 7 fotógrafas. Em ambos os casos sabemos que as mulheres estavam lá. 

“É por isso que sempre foi muito claro que para a WOPHA todos são bem-vindos. Estamos trabalhando com as mulheres, mas esta conversa não pode acontecer se os homens também não fizerem parte dela”, conclui Aldeide Delgado.

Durante o Congresso foi lançado o catálogo “Becoming Sister: Women Photography Collectives & Organizations“, para adquirir clique aqui.

Para saber mais sobre a WOPHA https://wopha.org/ e WOPHA Congress https://wophacongress.org/

 

Conheça e acompanhe outros movimentos:

Authority Collective (EUA)

Ayun Fotógrafas (Latin America)

Coletivo Las Ninas (Chile)

Contemporary Photographers

Cooperativa Fotografas (Chile)

Fast Forward Women in Photo (EUA)

Fem Grafia (Espanha)

Feminist Photography Network (Canadá)

Festival FFALA

Foto Féminas (EUA)

Foto Femme United (França)

Fotógrafas Del Norte (México)

Fotógrafas Latam (Colômbia – América Latina)

Hundred Heroines (Inglaterra)

La Part Des Femmes (França)

MFONwomen (EUA)

Mira Latina (Brasil – América Latina)

Mulheres Luz (Brasil)

Polish Woman Photographers (Polônia)

Strange Fire Collective (EUA)

Too Tired Project (EUA)

We Woman (EUA)

WildFires Photo (Escócia)

Women Photographers History (Chile)

WOPHA (Cuba – Miami)

WPR  (EUA)

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