Viagem ao Brasil 1865 - 1866

MARINA FELDHUES

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Trata-se da recomposição da narrativa do livro “Viagem ao Brasil (1865-1866)” publicado pelo Senado Federal nos anos 2000, fruto da Expedição Thayer [1865-1866] e que possui 519 páginas, transformando-o no livro de artista de páginas soltas homônimo. A recomposição foi feita a partir da sobreposição de colagens verbo-visuais produzidas com materiais que se contrapõem à narrativa do livro. Por um lado, as colagens expõem a violência da narrativa do livro original, a exemplo da impossibilidade da fixação  identitária dos retratos de “tipos”. Por outro lado, em diálogo com os retratados, através do tempo, recupero a exorbitância da carne negra que excede qualquer narrativa colonial sobre ela produzida. Com isso,  busco confrontar o próprio conceito de representação e identidade, conceitos fundamentais para a produção do mundo antinegro.
Solicitei e consegui acesso os retratos de “tipos raciais” produzidos por August Sthal, no Brasil, no âmbito da Expedição Científica Thayer [1865-1866], organizada pelo naturalista suíço Louis Agassiz [1807 – 1873] e, também, a permissão para a realização desse projeto artístico junto ao Peabody Museum of Archaeology and Ethnology – Harvard Institute, no final de 2021 como parte de minha pesquisa artística-teórica de doutorado. Possuo 3 diferentes volumes do livro diário da Expedição Thayer que se chama “Viagem ao Brasil (1865 – 1866)” de autoria de Louis Agassiz e Elizabeth Agassiz.
A pesquisa teórica sobre a expedição científica e seu arquivo fotográfico iniciou-se em 2019, ano em que realizei a fotofilme “Escala Humana” – primeira tentativa de apreensão corporal das poses dos retratos de “tipos”. Desde então venho estudando a performatividade da fotografia identitária na captura simbólica de existentes negros reduzidos a “corpos negros” dissimulados.
Em janeiro de 2022, com os retratos feitos por Stahl em mãos, realizei os trabalhos artísticos “(c)oração)” e “Sou porque somos”, ambos ocupam páginas do livro como colagens. Em dezembro de 2023, finalizei o processo de recomposição da narrativa do livro “Viagem ao Brasil (1865-1866)”. Dado que são 519 inserções, em sua maioria colagens realizadas com as fotografias de arquivo da expedição, de satélite da Nasa, justapostas a fotografias que eu mesma tomei de ambientes marítimos, mangue e urbanos, ou performei, o trabalho é composto por inúmeras séries que não se organizam necessariamente ordem cronológica do códice. Ora destaco a violência racial, como o capítulo em que saturo a cor branca aplicando-a às pessoas fotografadas como “tipos”. Ora transformo os corpos fotografados em espelhos que refletem os olhos do espectador. Ora realizo retratos-fantasmas em que os corpos aparecem sutilmente entre as árvores do mangue. Além do que busco saturar o corpo nu em sua significação, evidenciando a exorbitância da carne nua a qualquer produção material-discursiva que dela os colonizadores e seus descendentes tenham feito. <br />
“Viagem ao Brasil 1865 – 1866” (livro de artista homônimo concluído em 2023)
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MARINA FELDHUES
Recife – PE
Artista visual  Pesquisadora  Professora
@https://www.instagram.com/marinafeldhues