Nós mulheres curamos feridas reais e imaginárias. Habituadas a tecer, a fiar e a cuidar, costuramos eventos e memórias. E nossas dores, onde estão? Entre nós, pelo alinhavo de nossas mãos, amarramos por baixo das gazes os segredos alheios que cicatrizam com a distância no tempo. Amansamos a dor enquanto a sentimos. Remédio e veneno na mesma linha, na mesma vida. Pele Mansa se constrói no vai-e-vem de meus autorretratos e de fotos de outras mulheres a quem solicitei escolherem um pedaço de tecido para encobrir suas dores. Uma renda que escamoteia a ferida aos olhos alheios e não expõe os segredos vividos a sós. Um exercício de sutura às avessas. Corpo, pele, discurso, mistérios: uma promessa de cicatriz. A pele que divide meu mundo do seu. As dores amontoadas na sucessão do tempo, no corpo. As feridas com as quais luto, tiro a casca, sangro e lambo para liberar a dor.