O tempo destrói abrigos

Reisla Oliveira

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No interior do Rio Grande do Sul (Brasil), a cidade de Minas de Camaquã viveu tempos de prosperidade econômica durante o período de mineração de cobre, em meados do século XX.
Para guiar o pouso de avião pelo proprietário da mina, uma cruz de ferro de 17 metros foi implantada em um morro, o qual passou a se chamar Pedra da Cruz.
Após o fechamento da mina, a cidade foi gradativamente abandonada de gente e de infraestrutura, como ocorre com outras cidades mineradoras. A cruz, ainda sim, sobreviveu como guia do olhar, das preces e dos turistas.
Durante um vendaval, a cidade perdeu sua cruz. Moradores se mobilizaram e, com esforço próprio, construíram uma nova cruz. Desmontada em módulos, ela seria carregada ao topo da Pedra da Cruz.
Incapazes de carregar a própria cruz, moradores deixaram os módulos de 200 kg pelo morro afora, onde permanecem sob ação do tempo. Hoje, no chão daquele morro jaz ferrugem e o retrato de uma identidade que não existe mais.

Na série de imagens “O tempo destrói abrigos” faço uma associação entre a busca da identidade individual e a coletiva. Esta procura é muitas vezes amparada na memória, que por si é uma criação. O que dizer da identidade, então? Nas imagens da série, o corpo se confunde com o meio ao redor e com o desgaste esculpido pelo tempo, ao mesmo momento que se confronta com o pulsar da vida que reocupa espaços vazios.

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Reisla Oliveira
Belo Horizonte – MG
Artista visual  Fotógrafa
@reisla.oliveira