O Brasil foi afetado pela pandemia do Covid de maneira devastadoras como sabemos. E a Amazônia foi atingida como nenhuma outra área do país. Nos últimos 20 anos, trabalhei na Amazônia, viajando pela região extensivamente, tanto para stills como para documentários de TV.Durante a quarentena tive, como tantos outros pais, que me tornar professora dos meus três filhos. No começo, segui diligentemente as orientações dos professores que nos bombardeavam com tarefas e lições enviadas
por email. Enquanto isso, assistia o comportamento irresponsável do presidente Bolsonaro em relação à pandemia e a falta de resposta de seu governo em conter o vírus nacionalmente e ataques deliberados à Amazônia e seu povo. E nenhuma população está sendo mais afetada do que as populações indígenas da região. A história se repete e mais uma vez tribos inteiras podem ser exterminadas.Estudos mostram que a população indígena tem seis vezes mais chances de contrair o
vírus e morrer do que os homens “brancos”.
Enquanto assisto a situação se desenrolar de dentro de um lar seguro,tristeza e descrença me acometem. O mundo parece tão distraído enquanto este genocídio e destruição estão em andamento. De repente, percebo que meus filhos precisam aprender sobre esta realidade. Mais do que aritmética e tabuadas, eu queria que eles soubessem que a Amazonia e seu povo estão em grande perigo, e se não
fizermos nada agora, todo esse ecossistema não existirá da mesma maneira quando forem adultos.
Os convido para explorarmos imagens do meu arquivo de imagens da Amazonia e, juntos, transformá-
las. Usamos ouro, fogo e sangue, além de terra e folhas da Amazônia trazidas da minha última viagem.
No processo, conversamos sobre quais são as ameaças e os desafios que a região enfrenta. Através de nossas conversas, espero estar os educando sensivelmente quanto a essa tragédia iminente, enquanto tento articular algumas de minhas próprias emoções sentidas em relação à situação.
Meus filhos agora sabem -como outros jovens deveriam saber – que o povo nativo da Amazônia protege a floresta há milênios. Que suas terras sagradas contém ouro e outras riquezas que o ganancioso mundo desenvolvido quer extrair e seus territórios destruir. Que a retórica do presidente brasileiro e de seus aliados em favor do desenvolvimento da Amazônia valida todos os tipos de crimes e invasões. Eles agora sabem sobre ecocídio e etnocídio. Eles sabem que os garimpeiros
clandestinos cortam a floresta trazendo doenças, deslocando a terra e poluindo os rios, dificultando a pesca e a sobrevivência dos habitantes locais. Eles sabem que os incêndios são iniciados de propósito e então o gado e a soja chegam. Eles sabem que indígenas podem ficar mais doentes com o vírus do Covid do que nós outros nas cidades.
Eles sabem que há mortes e sangue envolvido e, para representá-lo, criaram uma fórmula de suco de beterraba e tinta. Também queimaram o papel fotográfico para representar a queima da floresta.
Enquanto transformávamos estas imagens, pude lidar um pouco com a tristeza e sensação de impotência que sinto pelo fato de que tribos inteiras podem deixar de existir. Ao mesmo tempo, quiz mostrar a eles a beleza dos momentos que compartilhei com esses povos da floresta. Queria encontrar alguma esperança no processo. Também espero que nossa série possa inspirar outros jovens a aprender, a fazer perguntas e a amar o habitat e povos que tanto amo e que a humanidade não pode perder.