Quando a fisiologia feminina é invadida e silenciada pelo patriarcado, nasce o “instinto materno” rouba-se o protagonismo feminino da gestação ao parto, fazem da sua escolha, mercadoria e mecanismo classificatório para fomentar a suposta dualidade Maria x Madalena. Usa-se a dominação carismática para disseminar o machismo tradicional que define uma mulher pela maternidade, cria-se uma alienação romantizada que invisibiliza sua individualidade. Abortar a configuração sistemática da sacralidade materna é romper com mitificações milenares, é validar a pluralidade humana, que vai além do imaginário romântico.
Reafirmar a cristalização da maternagem é uma violência simbólica, é anular a existência sociocultural feminina, sua atuação política e autonomia, fortalecendo o patriarcado opressor que minimiza a responsabilidade paterna em nome de um instinto coesivo que silencia e estereotipa, além de maximizar a dupla moral. Perpetuar a ideologia que a fisiologia sobrepõe à escolha é negar a vivência da diversidade, impossibilitando uma análise coerente sem rótulos e preconceitos, onde as mulheres que resolvem não reproduzir o roteiro encantado são estilizadas ou conduzidas a uma maternidade compulsória diante socialização da mesma.