2021
Passei 28 anos questionando os meus plantões de carnaval. Apesar de tamanha admiração por aquela folia, era quase um pesadelo imaginar os inúmeros obstáculos para realizar um bom trabalho.
Mas eis que vem a pandemia, figura invisível, sombria, com sua carga de impedimentos.
Ironicamente, veio também a falta de ver aquela festa, fotografá-la, sentir seu calor, o rufar dos tambores. Memória de outros carnavais.
Como passar esse sentimento em imagens?
Busquei respostas nos barracões das Escolas de Samba e nas ruas por onde elas deveriam passar. Mistura de curiosidade com a dor do vazio. Encontrei fragmentos de um carnaval em tempo suspenso.
Na Cidade, que sempre foi do Samba, vejo fantasias ensacadas. O divino, São Miguel do Arcanjo, encostado entre paredes, alma que aguarda a celebração. Tudo em compasso de espera.
Ainda em construção, o ensaio segue seu curso, à espera de um final sem previsão. É sobre o vazio do Carnaval mas também sobre o meu vazio e tudo que me toca nesses tempos de ruptura. Um ressignificado da festa mais tradicional da cidade do Rio, da Cidade do Samba à Praça da Apoteose. O Carnaval da Sapucaí que se reescreve em mim.