Desalinho

Mari Queiroz

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Dói pelo corpo todo: a ausente permanência de quem morreu. Esta série de fotografias fala da intensidade da perda e do abandono, refletindo a solidão do luto na paisagem externa de outrem. A dor pede pudor, e isentando-me de ter corpo, me desobriguei de ter memória; a narrativa acontece no fora, desconstruída e fragmentada. Se torna assim possível através do espelho. Nomear o incômodo perpétuo instalado pela ausência foi apenas o início do percurso, estava em desassossego havia muito tempo. Nunca se perde por inteiro um filho. Ele resta sempre como algo que temos a possibilidade de rememorar a fim de que seja. Mas o sofrimento é uma nudez, não se mostra aos outros. Quase todos evitam falar sobre isso. Nem uma palavra. Era melhor esquecer. Todos se lembravam muito bem, em silêncio, do que era melhor não lembrar. O desalinho é clandestino. Tornei-me uma mulher maculada, costurada em silêncio. Em meio à bruma, a cicatriz tão longe de uma ferida tão dentro me acompanha sempre, muda, entre cinzas e poeira.
(Pigmento mineral sobre papel de arroz e bordado, tiragem única)

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Mari Queiroz
São Paulo – SP
Fotógrafa
@maridequeiroz