Historicamente, o Brasil se configurou como destino de fluxos migratórios diversos, forçados ou “espontâneos” – característica que perdura na contemporaneidade. Apesar deste histórico e de sua constituição sociocultural multiétnica, imigrantes e refugiados continuam sofrendo com a invisibilidade, burocratização e a ausência de políticas acolhedoras, sendo assim é necessário fazer entender que essas circunstâncias não deve definir uma pessoa.
O projeto “Chimena – em vermelho” busca ser catalisador de sentimentos de empatia e conscientização, a fim de quebrar rótulos e preconceitos reproduzidos em nossa sociedade. Caroline Zambotti e Fernanda Brandão contam através de fotografias a história de Chimena Francisco – angolana que veio para o Brasil no ano de 2015 com apenas 17 anos, engrossando um já inflado número de pessoas que abandonaram seus países.
A despeito das motivações mais costumazes, Chimena aumentou as estatísticas de imigrantes para zelar por sua família. Mais especificamente, de Toni, seu irmão mais novo e portador de Hemofilia B grave – enfermidade pouco conhecida na Angola, descoberta através de um sério ferimento na perna.
Tempos depois, a chegada da sua irmã Joice aumentou as expectativas pela residência permanente no Brasil – ela estava grávida e o nascimento de sua filha Dayane no país poderia facilitar o processo da documentação da família. Deste modo, Toni não perderia seu tratamento gratuito fornecido pelo sistema de saúde público brasileiro.
O projeto é desenvolvido por meio de uma narrativa documental, na qual as fotógrafas acompanharam por dois anos o cotidiano da família. A expressão “em vermelho” surgiu depois: ao analisar as imagens, as artistas perceberam a frequência acidental de elementos vermelhos na maioria das composições. Ademais, a cor também representa a ligação entre os personagens dessa história: seus laços de sangue.
Em um pequeno cômodo encaixado nos fundos de uma pensão no bairro do Brás, em São Paulo, a família de Chimena divide atividades domésticas, lembranças e esperanças. Apesar das dificuldades encontradas e de tudo que deixaram para trás, a possibilidade de uma vida melhor é o que os conforta.