Tenho por hábito fotografar momentos que pedem permanência. São momentos de sentires profundos. Paro, respiro e sinto tudo estático ao meu redor, se contrapondo ao frenesi dos pensamentos. A câmera, minha cúmplice de todas as horas, me auxilia nessa função de reter. Não sei bem se para acessar essa memória sentimental num futuro impreciso, ou como um recurso de expressão estética que me apazigua. Momentos como esses foram e são constantes na quarentena. Às vezes troco a vassoura pela câmera, e vou arriscar construir alguma forma pra minha subjetividade. A casa serve ora como acolhimento, ora como clausura. Eu a piso, a vejo. Comungamos felicidade, tristeza, saudade, falta, raiva, apatia, tédio. Às vezes estou suspensa, às vezes desmoronada no seu chão. Ela acolhe dentro de si o externo de mim: o corpo puro que manifesta a expressão do que o move por dentro. E, desse relacionamento intenso, acontece esse ensaio movido por tantos e tão diversos sentimentos. Sem dúvida, no atual momento pandêmico, são essas imagens que me socorrem do transbordamento.