No aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro, 3 questões me moveram: qual a paisagem da cidade hoje, quem são as pessoas que, mesmo no limite da exclusão social, têm as melhores vistas da cidade? E como moram estas pessoas?
Inspirada pelo trabalho Câmara Escura, de Abelardo Morell, decidi contrapor a visão que os moradores dos morros do Rio de Janeiro têm da paisagem às suas vivências cotidianas – vivências estas indicadas pela intimidade do interior de suas moradias e pelos seus corpos. Fotografei o exterior a partir dos pontos de observação das casas e, literalmente, projetei a imagem deste exterior sobre seus moradores. O que descobri: as vidas se entrelaçam, a comunidade é uma extensão das moradias, o limite entre o público e o privado é bem tênue. Existe uma tensão grande no ar impedindo seus moradores de usufruírem desta paisagem, que lhes é acessível aos sentidos, mas que, muitas vezes, só se revela na forma de privações. É como se, metaforicamente, a luz da paisagem que invade suas casas lhes ofuscasse de forma impositiva.