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Água Condensada

Gabriela Campos

Gabriela Campos3

Sentimentos reprimidos e invalidados. Algo impalpável e delicado que em contato com uma superfície fria se adensa e escorre como uma lágrima.
Sinto uma cicatriz no fundo da minha alma. Ela guarda e protege tudo que há de potência em mim. Potência de vida, amor e eros.
Eu nunca compreendi as dimensões do meu corpo no espaço. Todos os seus limites, os seus contornos, são difusos. Sinto-me abstrata.
‘’O medo de perder tira a vontade de ganhar’’. É o que meu pai me dizia. Repetiu essa frase incontáveis vezes da infância à vida adulta. Como se fosse algo que me perseguia. E eu sempre sentia as pedras onde ia pisar antes de entrar na cachoeira, mas a vida é mais intensa que a cachoeira e não tem caminhos seguros.
Quando digo que sou ruim com palavras digo que sou ruim com sentimentos. Expressar sentimentos é comunicar-se. Eu gostava de escrever quando menina, agora cada palavra é um parto.
A vida demanda frases elaboradas.
Não basta racionalizar um pensamento, um sentimento, para resolver uma questão. Uma pessoa me disse que isso é a maior prova de que o homem não é dominado pela razão.

Uma percepção: eu preservei minha sensibilidade.

Ao vazio, dê vazão.
Ao amor, inquietação.
Água condensada,
Vida em ebulição.

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Gabriela Campos
São Paulo – SP
Diretora de fotografia  Fotógrafa  Montadora de vídeo
@gabicamposazevedo