Na série “A mãe morta”, a fotógrafa e psicanalista Marisi Bilini relaciona-se livre, poética e imageticamente com o conceito de “mãe morta” utilizado pelo psicanalista francês André́ Green, e evidencia as faltas, as dores, os traumas, os medos, mas também fala dos desejos, dos sonhos e da sensibilidade que nos habita enquanto seres humanos, em nossas transmissões geracionais.
O termo “mãe morta” cunhado pelo psicanalista refere-se não à morte real da mãe, mas sim, de sua morte psíquica, que a faz figura átona, distante, quase inanimada, sem brilho nos olhos.
Suas imagens nos alcançam com um silêncio perturbador. Uma sensação de vazio nos envolve e sufoca em cenários de medo, perigos e inocência. Um amálgama de dor e suavidade pulsa, pulsa vida, pulsa morte.
Entre ninhos e emaranhados, amparo e solidão, mãe, filha, e uma filha que se torna mãe. Na ambiguidade dos sentimentos humanos, a dor chega no assombro de reconhecer imagens que povoam nossos pensamentos, quase como se fossem lembranças cinematográficas onde nos confundimos com o personagem do filme.
Contudo, a ternura chega como em um sonho feminino, no limiar entre ser e/ou ter uma mãe, e perceber na construção poética a presença fluida da água como elemento de ambientes de vida e nascimento, gestação, renovação de ciclos, onde os limites ou a falta deles irremediavelmente nos levarão a reconhecer na travessia narrativa, pensamentos que constroem nossos afetos e sensações. [Lucila Horn]