A justa medida das coisas

Raphaela Fonseca

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Havia um espaço em mim que não refletia mais nada: um opaco nos músculos, algo sem brilho circulando em minhas veias. Como as esmeraldas e rubis e tanzanitas que são retiradas das montanhas, deixando na massa geológica vazios minerais, cicatrizes que os movimentos tectônicos (e todo seu poder avassalador) ou os intemperismos (graduais e lentos) poderiam reconstituir de alguma maneira. Minha vontade era poder expressar esse desajuste, esse desconforto, esse contraste entre o corpo e as coisas, o corpo e as casas, a pele e o plástico, cabelos e PVC – como esse ambiente familiar me retirava os minerais de minha própria montanha, ou, quem sabe, me revelava, ora insinuando, ora gritando, que talvez fosse o meu corpo e meus desejos que já não deviam ser encarados como uma metáfora da perda, e que o desarranjo é também potência criadora e artística.

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Raphaela Fonseca
Campinas – SP
Fotógrafa
@raphasantus