Abre-alas, a fotografia amplia caminhos

A mulher como centro da imagem, mexe com a noção de pertencimento [Foto Madalena Schwartz/IMS]

Carla Romero
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Segundo dados levantados pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil vai mal no ranking de igualdade de gênero, o país caiu 26 pontos na pesquisa deste ano. As piores baixas foram na esfera da política, mulheres cis e transgênero tem pouca participação nessa área. Mas a questão de direitos iguais para homens e mulheres vai muito além do território político, passa também pelo mercado de trabalho, pela violência, educação, saúde e etc. A luta para transformar essa realidade está em pauta, são várias frentes, e a fotografia também está engajada nesta batalha. As fotógrafas estão fazendo a sua parte, no agito das ruas ou na intimidade, elas veem retratando e questionando seu lugar no corpo social. A fotografia da mulher, feita por mulher, ajuda a rever seu papel na sociedade e a transformar essa situação esmagadora. As imagens despertam sensações, enfatizam um tema, apontam caminhos, conectam, emocionam e criam afetos. A mulher como centro da imagem, mexe com a noção de pertencimento. Atualmente o movimento feminista na fotografia, e em outras áreas, é vivo, vibrante e  organizado, mas há tempos as mulheres fotógrafas estão em busca da igualdade de gênero.

A fotógrafa americana Dorothea Lange, em 1936, fez uma imagem que aponta para questões de gênero e classe.  A fotografia, ”Migrant Mother” (“mãe migrante”, em tradução livre) emociona e conecta. Sem dúvida, temos uma mensagem feminista nesta imagem. A peça que se destacou na grande depressão americana, mostra uma mãe esgotada, com  um olhar forte, ela acolhe dois filhos pequenos e um bebê. A fotografia revela uma família em um mau momento, enfrenando problemas, mas exibe também uma mãe disposta a proteger seu grupo. Dorothea também mostra que nem toda família se encaixa no padrão estereotipado.

No Brasil a pioneira na fotografia profissional foi Gioconda Rizzo, em 1914, aos 17 anos, quando as mulheres ainda não tinham direito ao voto, ela monta seu próprio estúdio de fotografia, o Photo Femina, especializado em retratos femininos. Certamente serviu de estímulo e inspiração para mulheres de sua época, mostrando que era possível se libertar de modelos patriarcais, baseados em normas de gênero, onde as mulheres eram submissas aos homens. No entanto, a peripécia progressista de Gioconda não durou muito tempo, por pressão de uma sociedade inflexível, que não admitia mulheres inovadoras, o estúdio fechou após dois anos e só foi reaberto em 1960.

Décadas depois, recebemos no Brasil fotógrafas européias durante, e depois, da Segunda Guerra Mundial, fugindo do nazismo. Elas deixam claro que o fotografar  também é para mulher, questionando o sistema hierárquico que classifica o papel de homens e mulheres na fotografia. Nesse contexto, vieram para o Brasil a húngara Madalena Schwartz, a suíça Hildegard Rosenthal, a alemã Alice Brill, só para citar algumas. Madalena chega ao Brasil em 1960, e em 1966, aos 45 anos, começa a estudar fotografia no Foto Cine Clube Bandeirante, em São Paulo. Ela publicou em revistas como Claudia, Status e Planeta. Sua carreira foi marcada por retratos, dentre os figurões, ela clicou, Chico Buarque, Clarice Lispector e Jorge Amado. Também retratou a androgenia do grupo Dzi Croquettes, além de transformistas, andrógenos e travestis. Evidenciando o papel da fotografia nas estratégia de combate as desigualdades. 

* [Foto do destaque: Rogério Poly, integrante do Dzi Croquettes, Madalena Schwartz, 1974 – Acervo IMS]

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Carla Romero
Santa Cruz Cabrália – BA
Editora de fotografia  Produtora cultural
@carlaromerofoto